02 março 2010

COMUNIDADES QUILOMBOLAS

TIMBÓ

O quilombo de Nossa Senhora de Nazareth do Timbó está localizado em Iratama, distrito pertencente ao Município de Garanhuns, situado no agreste meridional de Pernambuco. Nesse município estão localizadas também as comunidades quilombolas Castainho, Estivas, Estrela, Tigre, entre outros.

Segundo os moradores mais antigos, a origem do quilombo está relacionada à chegada a Garanhuns de um escravo fugido da Bahia, o Negro Roque. Nesta cidade, Negro Roque foi trabalhar com o padre do local. Sentindo que seu dono poderia estar em seu encalço, Negro Roque confessou ao religioso que era um cativo fugitivo e pediu ajuda, caso o seu senhor aparecesse por ali. Então, eles combinaram que, se isso ocorresse, o sacerdote compraria a sua alforria.

Em poucos dias, o dono do Negro Roque chegou ao agreste pernambucano. O religioso cumpriu a sua palavra e comprou a liberdade de seu ajudante e de seus três filhos, que viviam escravizados na Bahia.

Tornando-se livres, Roque e seus filhos, a conselho do padre, começaram a procurar um lugar desabitado para que pudessem viver e trabalhar. Encontraram a área onde hoje está a comunidade e o sacerdote sugeriu que o terreno fosse regularizado por meio do pagamento anual do dízimo de foro.

A forma de proteção legal conseguida por Roque às suas terras foi estabelecer que tal área era de propriedade de Nossa Senhora de Nazareth. Aos poucos, outros negros foram chegando ao local e se estabelecendo em Timbó. Roque casou-se novamente, aumentou sua família e viveu ali até seus últimos dias.

Nossa Senhora de Nazareth tornou-se a padroeira da comunidade, que ergueu, no passado, uma capela em seu nome e organiza anualmente uma comemoração em sua homenagem.

A grilagem do território
Ao longo do século XX, os quilombolas de Timbó foram vítimas de violências e grilagem. Como resultado desse processo tiveram seu território reduzido significativamente.

No território da comunidade vivem apenas 33 das 175 famílias que compõem o quilombo. As outras pessoas vivem em terrenos pertencentes à Igreja católica ou que foram tomadas por fazendeiros.

Os quilombolas relatam que o primeiro fazendeiro a ocupar a área herdada do Negro Roque obrigou os moradores de Timbó a vender partes do terreno, utilizando-se da força bruta de seus capangas. Após a morte deste fazendeiro, sua família loteou várias áreas de Timbó e as negociou com diversos interessados.

A falta de terra e de oportunidades de geração de renda, ocasionadas por tal situação, levou muitos moradores de Timbó a abandonar a área e procurar outros locais para construírem sua vida. Em 2007, uma centena de famílias recebia cestas básicas do governo federal, pois se encontravam em situação de insegurança alimentar.

A comunidade tem lutado em diversas frentes para garantir melhores condições de vida. Por iniciativa dos moradores de Timbó, o quilombo possui uma escola, o Grupo Escolar de Timbó. Tal instituição funciona há cinco anos em uma única sala que, na realidade, é um compartimento da casa do líder comunitário Expedito Ferreira. O Grupo Escolar funciona em três turnos e possui 75 alunos que cursam, em classes mistas, as primeiras quatro séries do Ensino Fundamental.

A luta dos moradores de Timbó tem chamado a atenção de pessoas dispostas a ajudar a comunidade a buscar alternativas de geração de renda. É o caso de diversos artistas pernambucanos que têm realizado oficinas de arte em cerâmica no quilombo.

Em 2005, o Incra deu início ao processo de titulação da área da comunidade com base no artigo 68 do Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal. Em abril de 2008, o procedimento encontrava-se na fase de elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação, estudo que identificará os limites da terra a ser titulada em nome da comunidade.


Saiba mais:

• Acompanhe o andamento do processo de titulação no Incra
• Conheça o passo a passo do caminho da titulação




Veja também:


• Escravidão e resistência em Pernambuco
• Articulação das Comunidades Quilombolas de Pernambuco
• Conceição das Crioulas
• Castainho
• Serrote do Gado Brabo
• Onze Negras
• Timbó
• Fontes de consulta

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